segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A alternância de poder


REPASSANDO,
Sérgio Campregher




A alternância de poder é necessária para que a democracia seja bem sucedida. Caso contrário, prevalece a indiferença e os mesmos vícios do passado
Os manifestos de julho de 2013 foram ao longo destes últimos 13 meses diluídos na contra-manifestação. O manifesto contra o absolutismo reinante foi sendo destituído aos poucos e não intimidou os detentores do poder. A República permanece sempre exposta a crises que a sacrificam mais uma vez porque nunca foi verdadeiramente praticada no Brasil, contando com as massas para a defesa do populismo por se sentirem, as mesmas, identificadas com ela e beneficiadas por suas franquias e concessões.
Quando o Presidencialismo anula outros poderes, notadamente o Judiciário e o Legislativo, o mandonismo vigora alimentando a desorganização dos serviços públicos.
Esperava-se que restabelecida na sua plenitude a DEMOCRACIA constituiria um novo modelo por suas virtudes e por sua eficiência. Porém sem uma formação, entre nós de uma vigorosa consciência política, permaneceremos neste contexto. Os partidos políticos só se movimentam nas campanhas eleitorais para a obtenção de votos. Não temos ainda uma consciência política, porque tudo recai nos mesmos vícios do passado e o que prevalece é a indiferença.
No Brasil de hoje, não há um impasse político institucional, pois a configuração beneficia os partidos políticos.
A possibilidade de reeleição ad infinitum torna os dirigentes políticos permanentes freqüentadores de palanque com discursos vazios eleitoreiros de promessas futuras por quem está no exercício do poder, clara evidência da distorção do deixar o trabalho do mandato presente em função da conquista eleitoral de uma próxima gestão.
A prática do continuísmo direto ou indireto promove a corrupção eleitoral, desvios de verbas, licitações viciadas, favorecimentos e outras imputações de improbidades afins. O início da solução deste grave problema no quadro político está na ALTERNÂNCIA DE PODER.
O desejo do cidadão brasileiro é a procura do modelo natural – que é o da democracia moderna, forte e justa.
Para preservar e proteger os direitos e as liberdades individuais, um povo democrático deve trabalhar em conjunto para modelar o governo que escolher. E a maneira principal de fazer isso é através dos partidos políticos.
Há um ditado nas sociedades livres: cada povo tem o governo que merece. Para que a democracia seja bem sucedida os cidadãos têm que ser ativos, não passivos, porque sabem que o sucesso ou o fracasso do governo é responsabilidade sua e de mais ninguém.
Ao contrário da ditadura, um governo democrático existe para servir o povo.
As democracias garantem muitas liberdades aos seus cidadãos incluindo a liberdade de discordar e de buscar na ALTERNÂNCIA DE PODER um governo cuja obrigação é explicar  suas decisões e ações aos cidadãos com o objetivo de impedir a corrupção e de assegurar que as autoridades públicas continuem responsáveis e acessíveis às pessoas a quem servem, porque na ausência desses mecanismos, a corrupção pode florescer.
O autor é Historiado
 Farol Blumenau

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

PIB (Perfeito Idiota Brasileiro)

Ele fura fila. Ele estaciona atravessado. Acha que pertence a uma casta privilegiada. Anda de metrô – mas só no exterior.
Conheça o PIB (Perfeito Idiota Brasileiro). E entenda como ele mantém puxado o freio de mão do nosso país.
Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha o trabalho de quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, que vem sendo reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nas costas, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de “tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras. O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa por influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas – nem mesmo por ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é um especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e que adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.
O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes ou para idosos no shopping. É o casal que atrasa uma hora num jantar com os amigos. A lei e as regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que todos os outros. É um adepto do vale tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.
O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.
O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera no vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.
Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso”. O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho – preocupação com ter as contas em dia, afinal é coisa de pobre.
O PIB é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.
E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.
Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo – enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.
(Adriano Silva - jornalista)
Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres – não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos – e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.
Fonte: Revista SUPERINTERESSANTE – Edição 335 – Julho/2014 – Pgs. 24-25. Edição impressa.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Violência se alastra no interior



24/07/2014 - Fabricio Rebelo
A crise na segurança pública brasileira é grave, não havendo êxito sequer na contenção das atividades criminosas nas grandes cidades, com todos os recursos que lhes são inerentes. No interior, sem estes recursos, o quadro é catastrófico, verdadeiramente desesperador.
Continua repercutindo, com justificada razão, a mais recente edição do Mapa da Violência, publicada neste mês de julho. O recorde de 56.337 homicídios em 2012 é mesmo assustador e o número de cidades com taxas de homicídio elevadas igualmente impressiona. Contudo, há um fator apontado pelo estudo que demanda especial atenção: a interiorização da violência homicida.

Há cerca de duas décadas, ou até menos, era comum, no discurso de alguém que queria tranquilidade, a afirmação de que se mudaria para o interior. Hoje, a estratégia precisa ser repensada. Muitas cidades do interior possuem taxas de homicídio acima das capitais.

De todas as cidades computadas no Mapa da Violência 2014, a primeira dentre as capitais, Maceió (AL), aparece apenas na 35ª colocação. É a única dentre as 50 primeiras colocadas, que mantêm, todas, taxas superiores a 81 assassinatos para cada 100 mil habitantes. A capital seguinte na lista, Fortaleza (CE), aparece na 60ª colocação.

O levantamento comprova um movimento migratório da violência homicida para o interior dos estados, onde, em regra, a estruturação policial é mais frágil - em alguns municípios é realmente precária. E o pior é que não se tem perspectiva de melhoria a curto ou médio prazo. Ao contrário, o que se tem constatado é um crescimento gradual nas ações criminosas e em sua organização, não raro com cidades inteiras feitas reféns da ação de bandidos.

Na Bahia, por exemplo, os roubos a banco em cidades do interior indicam que a situação saiu do controle. Em 2013, foram 193 ataques e, no primeiro semestre deste ano, o número já se aproxima de 100 ocorrências. São ações de guerrilha, com táticas de ataque bem articuladas, uso de armamento pesado e, quase sempre, explosivos, com os quais cofres e caixas eletrônicos são arrombados – e junto com eles voam pelos ares agências bancárias inteiras.

A população dessas cidades não tem o que fazer, senão assistir a tudo rezando para sair com vida. Em muitos casos, os bandidos iniciam o ataque pelas unidades de polícia, em regra imóveis de pequeno porte com meia dúzia (ou menos) de policiais, e, daí em diante, tomam, literalmente, conta da cidade. Reúnem a população nas praças, servindo-lhes de escudo humano, e atacam as agências, às vezes duas ou três de uma só vez. Fogem exibindo poder de fogo, disparando a esmo seus fuzis 7.62 e, também não raro, levando reféns.

Os ataques deixam mortos. Alguns são os policiais inicialmente feitos de alvo, outros são os reféns ou cidadãos comuns, baleados ao acaso para facilitar a fuga sem perseguição. E em populações mais reduzidas, como na maioria das cidades interioranas, qualquer homicídio adicional tem impacto relevante na respectiva taxa que os contabiliza.

Além dos ataques a banco, as cidades sofrem com a invasão das drogas, principalmente o crack. Em alguns casos a situação é absurda, com proprietários rurais sem conseguir sequer mão-de-obra para a lavoura ou a atividade pecuária, vendo a força de trabalho ser transformada em zumbis que mal conseguem responder o próprio nome. A droga traz o tráfico e, com ele, mais mortes.

Nenhuma atividade criminosa mata mais que o tráfico de drogas, direta ou indiretamente. Ao tráfico estão relacionados os assassinatos em disputas por pontos de venda, os mortos em brigas entre facções rivais, os acertos de conta e os latrocínios resultantes de ações para alimentar o vício, pagar dívidas ou fortalecer financeiramente as quadrilhas. Se o tráfico se alastra, as taxas de homicídio aumentam na mesma proporção.

De sinônimo de tranquilidade, o interior se tornou referência de fragilidade. Com polícia deficitária, população desarmada por ações governamentais e inevitável circulação de dinheiro, tornou-se atrativo polo para a prática delituosa. Os mais recentes números apenas comprovam isso.

A crise na segurança pública brasileira é grave, não havendo êxito sequer na contenção das atividades criminosas nas grandes cidades, com todos os recursos que lhes são inerentes. No interior, sem estes recursos, o quadro é catastrófico, verdadeiramente desesperador. O eixo central das políticas de segurança precisa ser urgentemente revisto, abandonando-se o foco estritamente social e combatendo aquilo que realmente mata, nas capitais ou no interior: a criminalidade habitual.


Reforma Política? Reforma Tributária? Reforma financeira? Punição clara e rápida aos corruptos?

Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Os principais candidatos à sucessão presidencial se recusam a discutir, seriamente, estas causas principais do pibinho (baixo crescimento) combinado com carestia (aumento de especulativo de preços e depreciação do poder de compra) – gerando estagflação, que logo se transformará em recessão.

Enquanto a governança do crime organizado domina o País, em um espetáculo eleitoreiro de cinismo, mentiras e safadezas, os especuladores, cartéis e bancos lucram cada vez mais, ampliando a concentração produtiva e financeira no Brasil.  Banqueiros festejam lucros recordes no trimestre: Itaú Unibanco (R$ 4,973 bilhões) e Bradesco (R$ 3,78 bilhões).  O Santander, crítico arrependido do governo, lucrou “apenas” R$ 527,5 milhões...

O resultado do Itau Unibanco, anunciado nesta terça-feira, chama atenção pelos fatores que geraram tanto lucro, mesmo em uma atividade econômica de estagflação.  O banco faturou alto com os segmentos de crédito consignado (62,1%), imobiliário (26,1%) e cartão de crédito (28,6%).
A inadimplência, pelo menos no salvo de operações vencidas com mais de 90 dias, parece sob controle.  Mas o eleitor descontente com o governo, em sua maioria, encontra dificuldades, ao mesmo tempo, para fechar as contas de pagamento de empréstimos ou cheque especial, da prestação da casa própria ou do aluguel e do “dinheiro de plástico” dos cartões a juros extorsivos.

O motivo psicológico-econômico da bronca contra o governo Dilma vem da dificuldade de fechar as contas do mês com o mesmo orçamento – em geral composto por salários sem reajustes que acompanhem os aumentos absurdos de preços, sobretudo dos alimentos.  Não será a farra de escândalos na Petrobras, Eletrobras e outras “estatais”, nem o escândalo do Mensalão (já em fase de esquecimento), que derrotarão Dilma.  Ela será vencida pelo motivo que vai derrotar, em futuro próximo, quem vencer a eleição: a incapacidade de fazer as reformas essenciais na política, nos tributos e nas finanças, além de realizar um controle dos desperdícios gerados pela ineficiente máquina estatal capimunista – que só beneficia os controladores dos cartéis.

Derrotar o esquema petralha na eleição de outubro é uma prioridade fundamental.  Mas não basta, se a suposta “oposição” continuar raciocinando com o intestino, alimentando a conjuntura de bosta política e econômica.  A agenda das reformas prioritárias e urgentes precisa entrar na pauta de discussão séria da campanha eleitoral.  Se não entrar, serão os brasileiros quem entrarão (pelo cano), em breve. Nosso modelo esgotou-se (no sentido sanitário do termo).

Ou o Brasil muda, de verdade, ou se transformará em uma filial colonial da China – cujo capital entra pesado na América Latina, para adquirir empresas estratégicas, na bacia das almas, comendo pela beirada.  Estrategistas norte-americanos já demonstram preocupação com a transformação do Brasil em uma mera periferia chinesa.  Quando tal fenômeno se consolidar, a autoritária China terá condições de assumir o tão sonhado papel hegemônico na geopolítica.

O engraçado é que a China pretensamente Comunista, na verdade Capitalista de Estado (ou Capimunista) não passa de um projeto estruturado pela Oligarquia Financeira Transnacional para impedir que os Estados Unidos da América tenham hegemonia global, com soberania e independência.

O destino do Brasil é essencial para a disputa EUA x China. Por enquanto, o jogo parece favorável aos chineses. Mas a Águia pode armar para cima do Urso Panda.  Nós, os fulecos, somos a bola dessa partida.  Enquanto os candidatos brincam, demagogicamente, de segurar bebês no colo, os brasileiros vão ficando sem pai e nem mãe...

O que realmente mudou?

Documento especial de 1990, sobre o surfe ferroviário. Várias imagens sobre a miséria que é o subúrbio do rio fde janeiro, hoje são poucos os surfistas, mas o que mudou realmente?