quinta-feira, 3 de julho de 2014

Enc: Novos bilionários! Justiça social?

A Revista Forbes "identificou" 4 (quatro) novos bilionários no Brasil, mais exatamente em Mato Grosso, Cuiabá e Rondonópolis, que "coincidentemente" são da mesma família (Maggi).


O montante representa quase o orçamento anual que o Estado de Mato Grosso, já somados os três Poderes, tem para promover educação, saúde, segurança, infraestrutura, cultura, desporto, lazer, justiça e cidadania, para aproximadamente 3.000.000 (três milhões) de mato-grossenses.


Porém, mais da metade desses milhões de mato-grossenses, segundo o IBGE, quando possuem trabalho, auxílio e/ou renda oriunda de outra fonte qualquer, e não está entre o contingente de excluídos e miseráveis, aufere apenas algo entre 1 (um) e 3 (três) salários mínimos mensalmente, para saldar todas as dívidas, garantir o próprio sustento e/ou de sua família. 


Enfim, sobre o assunto, analisando concreta e friamente as bases do modelo econômico do estado de Mato Grosso, Sergio Schlesinger destacou que: "onde se produz 30% da soja brasileira, a agricultura familiar sofre sérias restrições. “Bons programas do governo federal como o de Aquisição de Alimentos (PAA) não se fazem presentes nesta região. No Brasil, a média é de 25% do território agricultável ocupado pela agricultura familiar. No Rio Grande do Sul chega a 34%. Mas no Mato Grosso a agricultura familiar ocupa apenas 10% das terras agricultáveis”, comparou ele.


E essa opção parece não ser somente dos detentores do poder político e econômico de Mato Grosso, mas, igualmente, das autoridades do Planalto Central, visto que, no site "Contra os Agrotóxicos",
em matéria intitulada "Recursos para o agronegócio superam os da agricultura familiar", consta que "dados divulgados no final de novembro de 2013, pela presidenta Dilma Rousseff, apontam que serão disponibilizados recursos na ordem de R$ 136 bilhões para o agronegócio, enquanto a agricultura familiar receberá R$ 21 bilhões, ou seja, 15,4% do total. É um cenário discrepante e preocupante".



    "Mais da metade desses milhões de mato-grossenses, quando possuem trabalho, auxílio e/ou renda, aufere apenas algo entre 1 e 3 salários mínimos mensalmente, para saldar todas as dívidas, garantir o próprio sustento e/ou de sua família"


Sobre isso, de acordo com Fernando Carneiro, professor e chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, "
o setor que receberá o maior montante de investimentos destina grande parte desses recursos à agricultura para a exportação de commodities".

A matéria também chama atenção para o fato de que
"o problema é que quando a soja, o algodão, o milho e a cana são exportados, junto a essa exportação vai solo, água e trabalhadores que morrem pela ingestão de agrotóxicos. Esse custo é socializado e o lucro é capitalizado. E essa exportação não é para alimentar a população brasileira. Basicamente é para servir de ração para os animais na China (maior parceiro comercial do Brasil) e Estados Unidos”, explica o professor Fernando Carneiro, que também é coordenador do Observatório da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta – Teia de Ecologia de Saberes e Práticas.

E a matéria arremata desmistificando o mito de que "o agronegócio veio para alimentar a fome da população e baixar o custo da cesta básica. Até porque, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o tamanho das áreas de plantio de arroz e feijão têm diminuído, pressionados pela soja e pela cana".


Na verdade, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento e de capacidade de percepção e compreensão, sabe que o agronegócio, e sua consequente produção de "mercadorias" para exportação (commodities), é o grande responsável hoje pelo desmonte do parque industriário do Brasil, bem como pelo sufocamento e estrangulamento da agricultura familiar, orgânica e vocacionada para botar comida barata e saudável na mesa dos trabalhadores e famílias brasileiras, ao invés de ter que importar hortifrutigranjeiros e ficar na mão da manipulação do preço pelo mercado estrangeiro.


Veja o caso do território de Matupá/MT, explorado agora pelo "Grupo Bom Futuro", também de propriedade de um integrante da família Maggi - provavelmente mais um bilionário -, apesar de oferecer algumas novas vagas de emprego na região e alguma nova arrecadação (muito menos do que a indústria etc..), junto com a impressão de desenvolvimento econômico local (contudo, para poucos) -, a médio e longo prazo, o investimento de aquisição de dezenas de milhares de hectares de terra no entorno da cidade, pode se tornar um presente de grego para os munícipes, ante o aniquilamento de modelos de economia solidária e cooperativa na região, a concentração de riquezas e hegemonia da monocultura de soja e algodão, ao invés de arroz e feijão, entre outros, poluição das terras e águas, por incontáveis litros de agrotóxicos, contaminação de crianças, pelo leite materno, e idosos, pelo sopro poluído do vento.


Então, pergunto: o modelo de desenvolvimento econômico em vigor em Mato Grosso e no Brasil hodierno é socialmente justo? Ajuda a diminuir as desigualdades sociais? Privilegia as micro e pequenas empresas, ao invés de os grandes conglomerados econômicos?


Parece que ouço o saudoso cantor brasileiro e brasiliense, Renato Russo, continuar cantando do além: "que país é esse?"; o Zé Ramalho, "ô o ô, vida de gado, povo marcado e povo feliz"; e o Gabriel Pensador, "até quando vamos continuar levando porrada, porrada, rindo da própria tragédia, até quando vamos ficar sem fazer nada, muda, muda essa postura!"


PAULO LEMOS 
é advogado popular.

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