BRASÍLIA - Com hábitos e costumes criticados pelas manifestações populares recentes, o Senado discretamente decidiu retirar da proposta do novo regimento interno da Casa a sugestão para que os senadores sejam obrigados a se comprometer a agir com ética "na atividade política" e como cidadãos. O compromisso seria assumido em juramento no ato da posse, mas foi rejeitada pelo relator das mudanças no regimento, senador Lobão Filho (PMDB-MA).
Veja também: ‘O que é ética para você pode não ser para mim. A ética é abstrata’, diz Lobão Filho
CNI/Ibope: Congresso tem aprovação total de apenas 7%
CNI/Ibope: Congresso tem aprovação total de apenas 7%
O
senador também excluiu do documento a obrigação para que os
parlamentares apresentem, quando empossados, declaração de bens de seus
parentes até o segundo grau. A medida evitava os chamados "parentes
laranjas" de parlamentares que transferem a nome de familiares parte de
seu patrimônio. "Não há como o senador obrigar seus parentes a revelarem
os bens que possuem, pois ofenderia o direito à privacidade desses",
justificou Lobão Filho.
O
Regimento Interno do Senado é de 1970, auge da ditadura militar. Desde
então, nunca foi reformado. O texto disciplina desde a atuação dos
senadores aos pronunciamentos e tramitação de matérias.
Em
2009, o então senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) relatou a primeira
tentativa de alterar as regras da Casa. O relatório do tucano acatou a
sugestão do então senador José Nery (PSOL-PA) para incluir no texto do
juramento da posse o compromisso dos senadores com a ética. O texto
atual diz apenas: "Prometo (...) desempenhar fiel e lealmente o mandato
de senador".
Na
proposta de Jereissati, o juramento incluía o compromisso de
desempenhar o mandato de forma "honesta" e "sempre na defesa
intransigente da ética na atividade política e como cidadão". O tucano,
contudo, deixou o Senado sem que o relatório fosse votado.
Como
novo relator, Lobão Filho suprimiu a versão que incluía o compromisso
com a ética do juramento. No parecer, apresentado à Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em maio, o senador disse que a
sugestão de mudança no juramento merecia ser acatada "parcialmente" para
incluir "a expressão honesta", mas não justificou a razão de rejeitar o
trecho.
Decoro. Lobão
também não acatou emenda que obrigaria a comunicação à Corregedoria de
atos incompatíveis com o decoro ou com a compostura pessoal praticados
fora das dependências da Casa Legislativa. O atual texto do regimento
prevê que a denúncia seja encaminhada quando a quebra de decoro ocorrer
dentro do prédio do Senado, o que foi mantido.
Entre
as emendas acatadas pelo senador, está a que impede o pagamento de
salário aos congressistas que "não compareceram à sessão em virtude de
prisão processual criminal".
O
texto está pronto para votação na CCJ. O presidente da comissão,
senador Vital do Rêgo (PB), é do mesmo partido de Lobão Filho - indicado
pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), quando líder. Se
aprovado na CCJ, o texto segue para uma comissão temporária especial,
mas há possibilidade de ir direto para o plenário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário