As campeãs nacionais de desastres
O sonho petista de criar um bloco de empresas financiadas pelo BNDES reeditou um pesadelo
Em
2007, o BNDES ressuscitou o zumbi da anabolização de empresários amigos
e anunciou que o governo queria criar um núcleo de "campeões
nacionais", inserindo-o no mundo das grandes empresas mundiais. Nesse
lance, botou perto de R$ 20 bilhões em empresas companheiras.
Numa
mesma semana, dois fatos mostraram o tamanho do fracasso dessa
política. O conglomerado da OGX, produção megalomaníaca de Eike Batista
na qual o BNDES financiou R$ 10,4 bilhões, está no chão. A "supertele"
Oi, produto da fusão pra lá de esquisita e paternal da Telemar com a
Brasil
Telecom, tornou-se uma campeã nacional portuguesa, fundindo-se
com a Portugal Telecom. Em 2010, o BNDES e os fundos de pensão tinham
49% da empresa. A nova "supertele" nasce com uma dívida de R$ 45,6
bilhões.
Novamente, receberá recursos do BNDES e dos fundos
companheiros. O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, garante que
essa fusão é uma "estratégia".
Vá lá, desde que ele acredite que o Unibanco fundiu-se com o Itaú.
A
carteira de ações do BNDESPar caiu de R$ 89,7 bilhões em 2011 para R$
72,8 bilhões em 2012. A campeã do ramo de laticínios chamava-se LBR e
quebrou. A Fibria, resultante da fusão da Aracruz (chumbada) com a
Votorantim, atolou.
O frigorifico Marfrig tomou R$ 3,6 bilhões no
banco e acabou comido pela JBS, cujos controladores movem-se num
perigoso mundo onde convivem a finança internacional e a política
goiana. Já o Bertin teve que ser vendido logo depois de o BNDES entrar
na empresa. (Até 2013, esse setor recebeu a maior parte dos
investimentos do BNDES.)
O BNDES anunciou há meses que abandonou a
estratégia da criação dos campeões nacionais. Falta só explicar quanto
custou, quanto custará e que forças alavancaram os afortunados. Essa
tarefa será fácil para alguns petistas e para o doutor Luciano Coutinho.
Eles conhecem a história do banco.
TUDO BEM COM THOR
Eike
Batista não pagou os US$ 45 milhões que devia aos seus credores, mas
ninguém deve temer que seus dependentes entrem para o cadastro do Bolsa
Família. Seu filho Thor, que estava em Miami com a mãe, a atriz Luma de
Oliveira, veio para o Rio. Mesmo tendo prestado serviços despiciendos ao
grupo OGX, recolheu aquilo a que julgava ter direito.
A VIÚVA NA FARRA DA FEIRA DE FRANKFURT
Sempre
é o caso de repetir a lição do embaixador Azeredo da Silveira: "Tem
gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na
outra calçada". O Ministério da Cultura e a Biblioteca Nacional
meteram-se com uma farra na feira de livros de Frankfurt e comprometeram
R$ 18,9 milhões da Viúva para custear a homenagem que o país receberá.
Trata-se
de um evento de negócios que começa quarta-feira, dura uma semana, mas
estará aberto ao público por apenas dois dias. Para ele convidaram 70
escritores, à custa da Boa Senhora. Ganha uma viagem a Cuba quem souber a
importância de uma homenagem na feira de Frankfurt para quem paga
imposto em Pindorama, onde a Biblioteca Nacional, arruinada, não abre
aos domingos e nela é vedado o uso de canetas. Recarga para o laptop, só
num restaurante próximo.
Em 2000, quando o governo de FHC torrou
R$ 14 milhões na feira de Hanover, comemorando os 500 anos do
Descobrimento, o procurador Luiz Francisco de Souza acusou a empresa que
montou o pavilhão brasileiro de improbidade. Se os empresários do
mercado editorial brasileiro precisassem da homenagem da feira,
poderiam recebê-la, com o dinheiro deles. O setor está grandinho.
Faturou
R$ 5 bilhões em 2012 e nele há administradores sagazes. Em 2012, o
Brasil importou 13,5 mil toneladas de livros mandados imprimir na China.
Afinal, custam a metade. Dão emprego a chineses e, com o dinheiro dos brasileiros, festejam-se na Alemanha.
Às
vésperas da feira, viu-se que foram contratados serviços sem as devidas
licitações, e um jornal alemão lembrou que entre os 70 escritores
convidados há apenas um negro, Paulo Lins. Apesar disso, o Brasil é
apresentado como "um país que se reinventa". Na sexta-feira, o escritor
Paulo Coelho detonou
a comitiva da reinvenção.
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