RODRIGO CONSTANTINO
Eike
Batista está para a economia como Lula está para a política. O
“sucesso” de ambos, em suas respectivas áreas, tem a mesma origem.
Trata-se de um fenômeno bem mais abrangente, que permitiu a ascensão
meteórica de ambos como gurus: Eike virou o Midas dos negócios, enquanto
Lula era o gênio da política. Tudo mentira.
Esse
fenômeno pode ser resumido, basicamente, ao crescimento chinês somado
ao baixo custo de capital nos países desenvolvidos. As reformas da era
FHC, que criaram os pilares de uma macroeconomia mais sólida, também
ajudaram. Mas o grosso veio de fora. Ventos externos impulsionaram nossa
economia. Fomos uma cigarra que ganhou na loteria.
A
demanda voraz da China por recursos naturais, que por sorte o Brasil
tem em abundância, fez com que o valor de nossas exportações disparasse.
Por outro lado, após a crise de 2008 os principais bancos centrais do
mundo injetaram trilhões de liquidez nos mercados. Isso fez com que o
custo do dinheiro ficasse muito reduzido, até negativo se descontada a
inflação.
Desesperados
por retorno financeiro, os investidores do mundo todo começaram a
mergulhar em aventuras nos países em desenvolvimento. Algo análogo a
alguém que está recebendo bebida grátis desde cedo na festa, e começa a
relaxar seu critério de julgamento, passando a achar qualquer feiosa uma
legítima “top model”.
Houve
uma enxurrada de fluxo de capitais para países como o Brasil. A própria
presidente Dilma chegou a reclamar do “tsunami monetário”. Os
investidores estavam em lua de mel com o país, eufóricos com o gigante
que finalmente havia acordado. Havia mesmo?
O
fato é que essa loteria permitiu o surgimento dos fenômenos Eike
Batista e Lula. Eike, um empresário ousado, convenceu-se de que era
realmente fora de série, que tinha um poder miraculoso de multiplicar
dólares em velocidade espantosa, colocando um X no nome da empresa e
vendendo sonhos.
Lula,
por sua vez, encantou-se com a adulação das massas, compradas pelas
esmolas estatais, possíveis justamente porque jorravam recursos nos
cofres públicos. A classe média também estava em êxtase, pois o câmbio
se valorizava e o crédito se expandia. Imóveis valorizados, carros novos
na garagem, e Miami acessível ao bolso.O metalúrgico, que perdera três eleições seguidas, tornava-se, quase da noite para o dia, um “gênio da política”, um líder carismático espetacular, acima até mesmo do mensalão. Confiante desse poder, Lula escolheu um “poste” para ocupar seu lugar. E o “poste” venceu! Nada iria convencê-lo de que isso tudo era efeito de um fenômeno mais complexo do que ele compreendia.
Dilma passou por uma remodelagem completa dos marqueteiros, virou uma eficiente gestora por decreto, uma “faxineira ética”, intolerante com os “malfeitos”. Tudo piada de mau gosto, que ainda era engolida pelo público porque a economia não tinha entrado na fase da ressaca. O inverno chegou.
O crescimento chinês desacelerou, e há riscos de um mergulho mais profundo à frente. A economia americana se recuperou parcialmente, e isso fez com que o custo do capital subisse um pouco. Os ventos externos pararam de soprar. Os problemas plantados pela enorme incompetência de um governo intervencionista, arrogante e perdulário começaram a aparecer.
A maré baixou, e ficou visível que o Brasil nadava nu. O BNDES emprestou rios de dinheiro a taxas subsidiadas para os “campeões nacionais”, entre eles o próprio Eike Batista. O Banco Central foi negligente com a inflação, que furou o topo da meta e permaneceu elevada, apesar do fraco crescimento econômico. Os investidores começaram a temer as intervenções arbitrárias de um governo prepotente, e adiaram planos de investimento.
A liquidez começou a secar. O fluxo se inverteu. E o povo começou a ficar muito impaciente. Eike Batista se viu sem acesso a novos recursos para manter seu castelo de cartas. As empresas do grupo X despencaram de valor, sendo quase dizimadas enquanto as dívidas, estas sim, pareciam se multiplicar. A palavra calote passou a ser mencionada. O BNDES pode perder bilhões do nosso dinheiro.
Já
a presidente Dilma, criatura de Lula, mergulhou em seu inferno astral.
Sua popularidade desabou, os investidores travaram diante de tantas
incertezas, e todos parecem cansados de tamanha incompetência.
Eike
e Lula deveriam ler Camus: “Brincamos de imortais, mas, ao fim de
algumas semanas, já nem sequer sabemos se poderemos nos arrastar até o
dia seguinte”.
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