Há
pouco mais de seis anos, no dia 5 de setembro de 2007, o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recebia uma sinalização clara da
PDVSA em relação ao projeto da refinaria de Abreu e Lima. Debaixo de
chuva e pisando na lama, ele e o governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, lançaram as obras da refinaria, que está sendo erguida a 50 km
ao sul do Recife, no Complexo Portuário de Suape. Diretores da estatal
venezuelana, declarada sócia do empreendimento, foram convidados para a
solenidade, mas se limitaram a agradecer pelo convite.
Já naquela
ocasião, o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, foi
obrigado a dizer que a unidade seria construída independentemente do
aporte venezuelano. De lá para cá, governo federal e a Petrobras
insistiram em manifestar a viabilidade da sociedade, apesar das
evidências cada vez maiores de que o negócio, firmado com o presidente
venezuelano Hugo Chávez, naufragara.
Há pouco mais de um mês e
agora como ex-presidente da estatal, Gabrielli afirmou que a parceria
não sairia do papel. Na época, a Petrobras não comentou as declarações.
Agora o Valor apurou que o fim do sonho já tem até data marcada. A
partir de 1º de novembro, Abreu e Lima deixará de existir como empresa e
será incorporada como unidade de negócios da Petrobras. Novamente a
estatal não quis comentar.
A ida do empreendimento para
Pernambuco foi conhecida em fevereiro de 2005, após uma "dica" da então
ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que deixou escapar a
jornalistas o destino da refinaria. A unidade teria capacidade para
processar 200 mil barris diários de petróleo oriundo da Bacia de Campos,
no litoral fluminense, e da Bacia do Orinoco, na Venezuela. O
investimento previsto era de US$ 2,5 bilhões, com inauguração esperada
para 2010.
Seis meses após o lançamento da pedra fundamental,
Chávez viajou a Pernambuco e visitou o canteiro, mas não assinou o
acordo de acionistas de Abreu e Lima. Chávez e Lula firmaram só um
acordo de associação, pelo qual a Petrobras teria 60% da refinaria e a
PDVSA, 40%. Coincidência ou não, três meses antes do encontro em
Pernambuco, a Petrobras decidira reduzir de 40% para 10% a sua fatia na
exploração do campo de Carobobo, na Venezuela, negócio que também tinha a
PDVSA como sócia. A brasileira alegou custos elevados.
No dia em
que Lula e Campos deram início às obras, o valor do empreendimento já
era maior: US$ 4,5 bilhões. Desde então, a refinaria enfrentou uma série
de contratempo, como greves, aditivos contratuais, falta de garantias
econômicas por parte da PDVSA e indicações de superfaturamento pelo
Tribunal de Contas da União. Os números mais recentes informados pela
Petrobras apontam para um custo superior a US$ 17 bilhões e quatro anos
de atrasos. A estimativa mais atualizada é que a primeira fase de refino
entre em operação em novembro de 2014.
A oficialização do
divórcio com a PDVSA deverá representar ainda mais custos ao projeto,
que já foi classificado pela atual presidente da Petrobras, Graça
Foster, como exemplo a não ser seguido. Em abril, o diretor de
Abastecimento da estatal, José Carlos Cosenza, disse que, confirmada a
desistência do parceiro, a adaptação necessária custaria em torno de 5%
do total do projeto. Pelos valores atuais, cerca de US$ 850 milhões.
Mais
recentemente, em maio, a presidente da Petrobras se reuniu com o atual
presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, a quem disse que gostaria de
ter a PDVSA como sócia. "Seria realmente bom que a PDVSA viesse. Mas
estamos fazendo a refinaria, independentemente da PDVSA", disse Graça,
após participar de uma audiência na Câmara dos Deputados.
Além da
refinaria em Pernambuco e da exploração no campo de Carobobo, Lula e
Chávez firmaram uma série de outros acordos entre as estatais
petrolíferas, como uma fábrica de lubrificantes em Cuba, associação para
transporte marítimo de petróleo e uma unidade produtora de
fertilizantes, entre outras. Da sociedade imaginada para a refinaria,
ficou apenas a homenagem ao general pernambucano José Inácio Abreu e
Lima, famoso na Venezuela por ter lutado ao lado Simon Bolívar, herói no
país de Chávez.
Fonte: Valor Econômico/Murillo Camarotto | Do Recife
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